Entenda as causas das brigas entre torcidas organizadas
- Guilherme Júnio Sá Barbosa
- 6 de fev.
- 2 min de leitura

Entenda as causas das brigas entre torcidas organizadas
As torcidas organizadas têm sido palco de intensas emoções, tanto as mais positivas, como a paixão incondicional, quanto as mais negativas, refletidas em episódios de extrema violência, como os confrontos entre as torcidas do Sport e do Santa Cruz, no Recife. Esses conflitos são apenas a ponta do iceberg, em uma sociedade marcada pela violência, de acordo com sociólogos e psicólogos consultados pela Agência Brasil.
Para especialistas como o sociólogo Edergênio Vieira, situações como essas evidenciam como o futebol no Brasil transcende o âmbito esportivo, refletindo as tensões e os impulsos da sociedade. Segundo ele, muitas pessoas levam o esporte a um grau de seriedade excessivo, o que acaba gerando atitudes extremas e violências que deveriam ser evitadas.
Vieira sugere que o futebol deve ser visto como lazer e diversão, e que torcer deveria incluir tanto os momentos de vitória quanto os de derrota, destacando a importância de não confundir esporte com fanatismo.
A relação do futebol com o sentimento de pertencimento também é central para a psicologia das torcidas organizadas. Pedro Henrique Borges, psicólogo e ex-diretor de uma torcida organizada, explica que esses grupos funcionam como movimentos de massa que acolhem indivíduos que, muitas vezes, carregam traumas pessoais ou históricos de exclusão social. Para Borges, a violência nas torcidas pode ser alimentada por um fenômeno psicológico coletivo, em que a massa perde a responsabilidade individual e segue os impulsos do grupo, levando à agressão física e psicológica contra o outro.
Além disso, questões culturais como o machismo e a repressão emocional que os homens enfrentam na sociedade também estão atreladas ao comportamento das torcidas, segundo Borges. As torcidas tornam-se, para muitos, um espaço onde é possível expressar emoções como afeto e frustração, muitas vezes de forma exacerbada.
A violência observada em alguns casos de confrontos entre torcidas também tem raízes no sentimento de desvalorização do adversário, o que é muitas vezes exacerbado por contextos de exclusão social e desigualdade. Vieira observa que o futebol, apesar de ser uma grande ferramenta de sociabilidade, também carrega em si a violência presente em muitas outras esferas da sociedade brasileira.
Possíveis soluções
A resposta ao problema da violência nas torcidas organizadas envolve, para os especialistas, tanto ações punitivas quanto educativas. Edergênio Vieira sugere a implementação de um cadastro nacional de torcedores e o uso de tecnologias como o reconhecimento facial para identificar e banir indivíduos problemáticos. Contudo, Pedro Borges acredita que a exclusão não é a solução, e defende a necessidade de políticas públicas focadas no desenvolvimento do senso crítico entre os torcedores.
Por fim, tanto os sociólogos quanto os psicólogos defendem que a atuação da polícia também é crucial para a prevenção de conflitos, apontando a importância de um trabalho de inteligência e de uma abordagem mais próxima e menos repressiva com as torcidas organizadas.
Em resumo, as brigas entre torcidas organizadas são reflexos de um complexo conjunto de fatores, que envolvem desde questões sociais, culturais e emocionais até a própria organização desses grupos. A violência, embora muitas vezes exacerbada no contexto do futebol, é apenas um sintoma de problemas mais profundos presentes na sociedade.
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